Moradores da comunidade quilombola de Alto Alegre, no distrito de Queimadas, no município de Horizonte, estão aprendendo a transformar a palha de carnaúba, matéria-prima abundante na região, em folhas de papel. O conhecimento está sendo repassado no curso de Artesanato da Palha da Carnaúba, que prossegue até esta sexta-feira, na sede da Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e adjacências.
A técnica dá novo uso à palha da árvore, cujo aproveitamento costuma se restringir à retirada da cera, da madeira e da folhagem para a fabricação de acessórios. O objetivo é fortalecer a produção local, melhorar a qualidade de vida da população e promover a responsabilidade social e ambiental junto aos participantes.
O curso para 20 moradores da comunidade começou no último dia 24 de novembro e é fruto de uma parceria entre a Prefeitura de Horizonte, o Centro de Ensino Tecnológico (Centec) e o Centro Vocacional Tecnológico (CVT).
Confecção de peças
Segundo a gerente municipal de Empreendedorismo e coordenadora do projeto, Vanda Lúcia, o curso deverá ter uma segunda etapa no próximo mês de janeiro. Depois de produzir o papel, os participantes serão ensinados a utilizar o papel na confecção de peças como blocos de anotação, luminárias, cadernos, cartões e tudo o que a imaginação permitir. No mesmo mês, a Prefeitura pretende oferecer também um curso de empreededorismo, ensinando técnicas de comercialização do próprio negócio.
Apesar da produção de objetos ser uma etapa futura, a coordenadora diz que alguns participantes já conseguem fazer peças simples, como caixas de papel. É a primeira vez que a técnica é ensinada em Horizonte. A escolha da comunidade quilombola se baseou na fartura de carnaúbas na região e na criatividade que os descendentes negros demonstram.
A folha da palha da carnaúba passa por dez etapas até virar papel. O primeiro passo é triturar todo o material em uma máquina conhecida como forrageira. Depois, a palha é cozida e lavada, enquanto a água é neutralizada para não prejudicar o meio ambiente.
Há grupos no Ceará que inovam na produção e já ganham dinheiro com o trabalho
Só depois, a polpa vai para o liquidificador, junta-se à cola e é levada para secar. Segundo a tecnóloga de alimentos e instrutora do Centec, Márcia Leite, este é o mesmo processo para transformar em papel a palha do milho, o bagaço da cana-de-açúcar, a folha da bananeira e, com o que ainda não é feito no Ceará, a coroa do abacaxi.
Conforme Márcia, há grupos no Ceará que já ganham dinheiro com o trabalho e estão conseguindo inovar na produção. “Estão valorizando mais a planta e evitando desmatar porque a renda com o papel é melhor”, explica.
Fonte: Diário do Nordeste em 10/12/2008.
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